quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Em Fortaleza, igreja gay se torna alvo de ataques


Uma igreja evangélica que defende a inclusão de homossexuais e cujos fiéis são na maioria gays virou alvo de ataques em Fortaleza.

A Comunidade Cristã Nova Esperança foi pichada com os dizeres "Morte aos gay e sapatão (sic)", "Igreja gay filosofia do diabo", "Fora bando de gays" e "Homofobia não é crime".

A presidente da igreja na cidade, Sara Cavalcante, relatou que pessoas que passam na rua jogam pedras no local e ameaçam incendiar o imóvel.

De acordo com ela, as agressões começaram com as pedradas, no último mês de agosto. Depois disso, os cadeados da igreja foram danificados.

Já as pichações começaram em outubro e se intensificaram no mês passado. Neste mês, até urina, diz Sara, já foi jogada pela porta da comunidade.

A igreja, que fica no bairro Nova América, não tem placas ou nome na porta, de acordo com a líder, justamente para evitar exposição.

As pichações mais ofensivas escritas nas paredes da igreja cearense foram cobertas com tinta.

"Somos uma igreja evangélica pentecostal, só que o diferencial é que nas outras igrejas os homossexuais têm certa dificuldade de desenvolver sua área espiritual."

DIVERSIDADE

Sara diz que sua igreja abre as portas para abraçar a diversidade. "Cremos que a salvação é para todos, que Deus é um só e que todos têm liberdade de culto", afirma.

A igreja, segundo Sara, está em Fortaleza há três anos e nunca havia sofrido ataques homofóbicos.

Ela afirma que cerca de 60 religiosos frequentam o local, a maior parte gays, lésbicas e travestis.

INVESTIGAÇÃO

A Polícia Civil está investigando o caso. Até ontem, os autores das agressões não haviam sido identificados.

Segundo Felipe Lopes, da Coordenadoria de Diversidade Sexual da Secretaria Municipal de Direitos Humanos de Fortaleza, será feito um trabalho educativo com os moradores do bairro e de uma igreja metodista que fica na mesma rua.

Fonte: Folha

domingo, 12 de dezembro de 2010

Papaleaks

Pope Benedict XVI received by Turkish prime minister in Ankara in 2006

Telegramas do WikiLeaks: Papa queria Turquia muçulmana fora da União Européia

Diplomatas vaticanos também fizeram lobby contra Hugo Chávez, da Venezuela, e queriam "raízes cristãs" consagradas na constituição da UE

Heather Brooke e Andrew Brown
guardian.co.uk, sexta 10 dezembro 2010 21.30 GMT


O papa é responsável pela crescente hostilidade do Vaticano sobre a Turquia entrar para a União Europeia, dizem telegramas secretos anteriormente enviados da embaixada americana para a Santa Sé em Roma.

Em 2004, o Cardeal Ratzinger, futuro papa, bradou contra deixar um Estado muçulmano se tornar membro, embora à época o Vaticano fosse formalmente neutro sobre a questão.

O ministro das relações exteriores, Monsenhor Pietro Parolin, respondeu contando aos diplomatas americanos que os comentários de Ratzinger eram individuais, e não a posição oficial do Vaticano.

O telegrama liberado pelo WikiLeaks mostra que Ratzinger era a voz que mandava por trás do movimento sem sucesso da Santa Sé em assegurar uma referência às “raízes cristãs” europeias na constituição da União Europeia. O diplomata americano observou que Ratzinger “entende claramente que permitir que um país muçulmano entre na UE iria enfraquecer ainda mais sua casa pelas bases cristãs da Europa”.

Mas em 2006 Parolin estava trabalhando para Ratzinger, agora Papa Bento XVI, e seu tom esfriou distintamente. “Nem o Papa, nem o Vaticano tinham aprovado a adesão per se da Turquia à UE,” ele contou para o agente diplomático americano, “no entanto, a Santa Sé tem sido constantemente aberta para acordo, enfatizando apenas que a Turquia precisa cumprir o critério de Copenhagen da UE para ocupar esse lugar na Europa.”

Mas ele não esperava que as demandas sobre liberdade religiosa fossem atendidas: “um grande receio é que a Turquia pode entrar para a UE sem ter feito os avanços necessários em liberdade religiosa. [Parolin] insistiu que membros da UE – e os EUA – continuem a pressionar o [governo da Turquia] nessas questões... Ele disse que, além daquela ‘perseguição aberta’, não poderia ficar muito pior para a comunidade cristã na Turquia.”

Os telegramas revelam que o governo Americano fez lobby em Roma e Ancara pela adesão da Turquia à UE. “Nós esperamos que um oficial sênior do departamento possa visitar a Santa Sé para encorajá-los a fazer mais para promover uma mensagem positiva sobre a Turquia e a integração,” concluiu o telegrama de 2006.

Mas em 2009, o embaixador americano estava informando, na ocasião da visita do presidente Barrack Obama, que “a posição da Santa Sé agora é que, como um não membro da UE, o Vaticano não tem papel nenhum em impulsionar ou vetar a adesão da Turquia. O Vaticano pode preferir ver a Turquia desenvolver uma relação especial com a UE na ausência de se tornar membro desta.”

O Catolicismo Romano é a única religião no mundo com o status de uma nação soberana, permitindo que a maioria dos clérigos do papa se sente no topo da mesa com líderes mundiais. Os telegramas revelam o rotineiro domínio do Vaticano sobre canais diplomáticos enquanto, por vezes, nega exercê-lo. O Vaticano tem relações diplomáticas com 177 países e tem usado seu status diplomático pra fazer lobby com os EUA, ONU e UE num apelo orquestrado para impor sua agenda moral através de parlamentos nacionais e internacionais.

O agente diplomático americano D. Brendt Hardt contou a Parolin, seu interlocutor diplomático em Roma, sobre “o potencial da Santa Sé em influenciar países católicos a apoiar ou banir a clonagem humana”, ao que Parolin enfatizou sua concordância com a posição dos EUA e prometeu apoiar inteiramente esforços da ONU para tal proibição.

Em outras questões globais, como mudanças climáticas, o Vaticano procurou usar sua autoridade moral como influência, enquanto se recusava a assinar tratados formais, como o acordo de Copenhagen, que requer compromisso com relatórios.

Numa reunião em janeiro deste ano, Dr. Paolo Conversi, o representante do papa sobre mudanças climáticas no secretariado de estado do Vaticano, contou a um diplomata americano que o Vaticano iria “encorajar discretamente outros países a se associarem a eles no acordo quando surgirem as oportunidades”.

Os americanos notaram que a oferta de Conversi a apoiar os EUA, ainda que discretamente, era significante porque o Vaticano era muitas vezes relutante em aparecer para comprometer sua independência e autoridade moral por se associar com particulares esforços de lobby.

“Ainda mais importante que a assistência de lobby do vaticano, no entanto, é a influência que a orientação do papa pode ter na opinião pública nos países com grandes maiorias católicas e além.”
Os telegramas também revelam que o Vaticano planejava usar a Polônia como um cavalo de tróia para espalhar valores de família católicos através de estruturas da União Européia em Bruxelas.

O então embaixador dos EUA para a Santa Sé, Francis Rooney, informou a Washington em 2006, pouco depois da eleição do Papa Bento XVI, que “a Santa Sé espera que a Polônia vá manter a linha na UE nas questões de ‘vida e família’ que surgirem” e serviria como um contrapeso ao secularismo europeu ocidental, uma vez que o país tinha sido integrado à UE.

Os trechos do telegrama nos quais o Papa Bento está preocupado com a crescente distância psicológica da Europa de suas raízes cristãs.

“Ele continua a focar no potencial da Polônia para combater essa tendência. Este foi um dos temas da visita de vários grupos de bispos poloneses ao Vaticano no final do ano passado [2005]. ‘É um tópico que sempre aparece,’ explicou Monsenhor Michael Banach, o ministro da Santa Sé para assuntos exteriores. Ele nos contou que os dois lados reconheciam que a os bispos poloneses precisavam exercer liderança face ao secularismo europeu ocidental.”

Através do Atlântico, o Vaticano tem dito aos americanos que quer minar o presidente venezuelano, Hugo Chávez, na América Latina, por causa de preocupações com a deterioração do poder católico lá. O Vaticano teme que Chávez prejudique seriamente as relações entre Igreja e Estado por caracterizar a hierarquia da Igreja como parte da classe privilegiada.

Monsenhor Angelo Accatino, responsável pelos assuntos do Caribe e dos Andes pelo Vaticano, disse que Obama deveria alcançar Cuba “em nome de reduzir a influência de Chávez e quebrar sua trama na América Latina”. Em dezembro do ano passado, o assessor americano para a Europa ocidental na ONU, Robert Smolik, disse que o observatório do Vaticano estava “sempre ativo e influente nos bastidores” e que assim “fez lobby nos corredores e em consultas informais, particularmente em questões sociais”.

Em 2001, outro diplomata americano no Vaticano afirmou: “a Santa Sé continuará procurando desempenhar um papel no processo de pacificação do Oriente Médio enquanto nega sua intenção”.

sábado, 11 de dezembro de 2010

WikiLeaks expõe diplomacia e críticas à postura do Vaticano

Leon Ferrari


Telegramas diplomáticos enviados de embaixada dos EUA ao Departamento de Estado falam sobre abusos sexuais e cardeais tecnofóbicos


Reuters 11/12/2010 19:22

O Vaticano pode ser o menor Estado do mundo, mas até a sua diplomacia foi escancarada pelos vazamentos no WikiLeaks. As divulgações vão desde abusos sexuais e erros nas relações públicas até a presença de cardeais "tecnofóbicos."

Telegramas enviados da embaixada dos Estados Unidos no Vaticano ao Departamento de Estado descrevem o papa Bento 16 como isolado em algumas situações, enquanto seus auxiliares tentam protegê-lo de notícias ruins. Os documentos também dizem que o maior assessor papal é visto como um homem com pouca credibilidade entre diplomatas.

Os telegramas foram publicados pelo jornal britânico The Guardian, uma de várias empresas de comunicação que receberam acesso aos documentos que vazaram das embaixadas dos EUA em todo o mundo. Um longo telegrama em fevereiro de 2009, cheio de linguagens diplomáticas, fala sobre fortes críticas às estruturas de comunicação interna e externa do Vaticano, que é responsabilizado por algumas "escorregadas" públicas do papa Bento 16.

"A operação de comunicação na Santa Sé está sofrendo com 'mensagens confusas', em parte como resultado da tecnofobia e ignorância de cardeais sobre as comunicações no século 21. Apenas um importante assessor papal tem um Blackberry e poucos possuem contas de e-mail. Isso levou a asneiras de relações públicas em assuntos sensíveis como o Holocausto," escreveu um diplomata norte-americano.

Um telegrama chama o círculo de assessores do papa de homens "ítalocêntricos" que não se sentem bem com a tecnologia da informação e com a "competição selvagem das comunicações." O braço direito do papa, o Secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, é retratado como um "homem do sim," sem experiência diplomática ou habilidades linguísticas, e o telegrama sugere que o papa é protegido de notícias ruins. "Há também a questão de quem, se alguém, leva visões discordantes à atenção do papa," diz o documento.

Percepção

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi (autoridade elogiada por saber como usar um Blackberry), disse neste sábado que os telegramas refletem a percepção de seus autores e não são "expressões da Santa Sé propriamente dita."

Um documento vazado diz que a "falta de compartilhamento de informações" entre as instituições do Vaticano é a culpada pelo erro no discurso do papa em Regensburg, em 2006, que os muçulmanos entenderam como um ato de igualar o Islã à violência, e a reintegração de um bispo que nega a existência do Holocausto. Judeus e muitas outras pessoas ficaram enraivecidas em 2009 quando o papa cancelou a excomunhão do bispo tradicionalista Richard Williamson.

Um telegrama datado de 26 de fevereiro desde ano mostra também que o Vaticano impediu a cooperação com investigadores sobre abusos sexuais praticados pelo clero na Irlanda. O telegrama diz: "O Vaticano acredita que o governo irlandês falhou ao respeitar e proteger a soberania do Vaticano durante as investigações." O documento diz que o Vaticano ficou ofendido e enraivecido pelos pedidos de investigadores irlandeses que queriam conversar com a Santa Sé.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ônibus "ateus" vão circular por Salvador

Ônibus com mensagem atéia na Inglaterra: "É provável que Deus não exista. Agora pare de se preocupar e aproveite a vida" (tradução livre).



A capital nacional da fé e devoção está prestes a receber uma campanha que promete dar o que falar. Tratam-se dos ônibus “ateus”, que a partir do próximo domingo (12), começam a circular por Salvador. Alguns coletivos da capital exibirão mensagens nada convencionais expondo o ponto de vista de ateus e agnósticos sobre temas como fé e moralidade. A ação é uma iniciativa da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, e o mote da campanha é o slogan “Diga não ao preconceito contra ateus”. Serão quatro peças diferentes acompanhando imagens fortes e frases polêmicas. Uma delas afirma: “A fé não dá respostas. Ela só impede perguntas”. Em outra peça aparecem Adolf Hitler e Charles Chaplin (ambos de ‘monogode’) ilustrando o texto “Religião não define caráter”. A associação, que tem núcleos em várias partes do mundo, pretende arrecadar fundos para estender a exibição das peças, inicialmente prevista para um mês. Segundo o presidente da entidade, Daniel Sottomaior, a campanha é necessária para chamar a atenção da sociedade e tirar os ateus da invisibilidade. “Somos cerca de 2% dos brasileiros, ou 4 milhões de ateus. Mas muitos têm medo de se expor devido ao preconceito de amigos, chefes e familiares. Isso tem que acabar”, afirma. Evangélicos, católicos, pessoal do axé e assemelhados, temei.

João Gabriel Galdea

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ÚLTIMAS NOTÍCIAS:

A empresa contratada para o serviço em Salvador alegou que o cumprimento do contrato violaria o decreto municipal Nº 12.642 de 28 de abril de 2000, que afirma:

Art.15 - Fica proibida a colocação de qualquer Meio ou exibição de anúncio, seja qual for sua finalidade, forma ou composição nos seguintes casos;
II. quando favoreça ou estimule qualquer espécie de ofensa ou discriminação racial, sexual, social ou religiosa

III. quando contenha elementos que possam induzir à atividades criminosas ou ilegais, ao uso de drogas, a violência, ou que possam favorecer, enaltecer ou estimular tais práticas;

IV. quando considerado atentatório, em linguagem ou alegoria, à moral pública e aos bons costumes;

sábado, 4 de dezembro de 2010

Rammstein: sexo e violência em pacote dadaísta



Rammstein: sexo e violência em pacote dadaísta

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/12/01/rammstein-sexo-violencia-em-pacote-dadaista-345634.asp

Há muito tempo que eu queria escrever sobre o Rammstein, mas esperei pela ocasião dos shows deles aí no Brasil. Um deles foi ontem, em São Paulo. Vai ter mais um hoje.

A espécie da música não me interessa nem um pouco. Mas não tem como negar o significado da banda para a história da música alemã. Formada em Berlim em 1994, é uma das integrantes do chamado “novo hard metal alemão”. Longe de saber o que isso quer dizer exatamente, me abstenho de comentar profundamente, com o consolo de saber que um rótulo não é o bastante para definir o Rammstein, sendo que os próprios se definem como “tanzmetal” (algo como dancemetal). Metal alternativo, nós entendemos!

Como rotular isso agora, críticos?

Tem também as letras irreverentes, parte fundamental da comunicação com o público. O vocalista Till Lindemann se entende muito bem com a platéia e fãs quando canta sobre temas favoritos como sadomasoquismo, homossexualismo, necrofilia, abuso sexual, canibalismo, etc. Ah, incesto também entra nessa lista. Tudo sem esquecer da inspiração nos textos de Goethe.

Por último, mas não menos importante: as performances. O grupo foi proibido de tocar em Moscou e Minsk esse ano por causa do conteúdo provocante dos shows. São verdadeiros espetáculos dadaístas, com direito a fogos de artifício e lightning designers para elaborar os conceitos pirotécnicos. Porque nada aparece à toa em um show do Rammstein.

O canal ZDF exibiu em outubro um especial sobre a música alemã que nasceu depois da queda do muro de Berlim. Peguei por acaso na TV. A análise pegava como gancho as peculiaridades das bandas do “Oeste” e do “Leste”.

No programa, várias bandas queridinhas da “cena”, como Wir Sind Helden, Die Prinzen, Die Atzen, etc, bateram o martelo e escolheram o Rammstein como banda símbolo do rock pop alemão depois da reunificação. Abusados, debochados, explosivos, o extremo do extremo. Até então nenhuma banda alemã reunia essas características. Mesmo polêmicos, conquistaram o coração até dos mais afeitos a um Schumann.

Esqueci de dizer que a banda foi formada na ex-Berlim oriental. O que torna todo o contexto mais interessante ainda. Os artistas do Leste cresceram desenvolvendo sua arte e música sob os tapetes da ditadura. Todos os integrantes do Rammstein nasceram e cresceram na RDA e tocavam já na época do muro em bandinhas underground da cidade.

Em 1990 de repente estava tudo liberado. E o Rammstein apareceu nesse cenário como um expurgo estético necessário de uma cultura, costumes e tabus que ficaram empoeirados durante 40 anos. Sim, porque as ditaduras não eliminam o seu eu-lírico pervertido. Junto a isso tem-se o modelo da banda, que foi acima de tudo, um negócio de sucesso. Já venderam mais de 16 milhões de discos mundo afora.

A violência como símbolo também faz parte do pacote do Rammstein, e no começo a banda foi facilmente cunhada de neonazista por escolher levar o estilo “fascista” como opção estética. O cabelinho preto e curto, partido do lado, culto a músculos, atitude brutal e abordagem de temas como violência e guerra funcionaram como um excelente provocador. A ambivalência proposital deu super certo na fórmula da banda e colaborou para levar sua popularidade às alturas.

Uma das peripécias recentes foi a produção de um clipe para uma música do último álbum com cenas de sexo explícito, onde os próprios integrantes da banda eram os protagonistas. É muito difícil de achar na internet a versão “director’s cut” do vídeo. A versão que rola por aí é a que pode passar nas MTVs da vida. O nome da canção é “Pussy” e posso garantir que o negócio é hard e que o tema refere-se a vida sexual dos homens alemães.

É o Rammstein mais uma vez fazendo crítica social por meio de suas letras.

Tamine Maklouf - www.diekarambolage.wordpress.com

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Brasil Novo?

Diretor e roteirista de "Apenas Heróis" é agredido por três homens e torna-se mais uma vítma da intolerância

Via: http://apenasherois.blogspot.com/

Justamente por ser o blog de "Apenas Heróis" um espaço onde sempre se impera a sinceridade sobre os acontecimentos que permeiam a produção, utilizamos este local para esclarecimentos.

No domingo, 21 de novembro, o diretor e roteirista de "Apenas Heróis", Daniel Sena, foi vítima de violência proxímo a sua residência, quando foi atacado por três homens que sairam de uma Saveiro estacionada numa alameda. Imediatamente os envolvidos, o renderam e o levaram para um matagal onde aos gritos de "viadinho", "gay de merda" e outras coisas, fizeram com que este comesse terra e bebesse um copo de gasolina - segundo os agressores, para limpar a boca. A todo instante gritavam se ele teria coragem de continuar a escrever e dirigir um trabalho assim e ameaçaram introduzir um pedaço de ferro em seu ânus, para que ele pudesse ver como era bom ser gay. Toda a ação durou pouco mais de 10 minutos. Ajudado por um caminhoneiro que passava pelo local, ele foi para casa onde foi medicado e em seguida tomou as providências necessárias.Hoje, segunda-feira, 22 de novembro, pela manhã, ele foi ao hospital fazer exames especificos para assegurar a saúde.

Agora calmo e tranquilo, ele pretende voltar suas atividades, no dia 24. Em que sociedade estamos vivendo? Que mau faz uma produção que só passa bons valores, que dá visibilidade a pessoas que trabalham e tem talento? Que não fere a ninguém? Qual direito estes jovens tem de ferir, agredir ou humilhar pessoas que levantam bandeiras de paz? A indignação é muita, mas a certeza de que a justiça de Deus é a mais correta de todas, esperamos, pois as dos homens, é dificil de confiar e acreditar - visto as dificuldades de se fazer um simples boletim de ocorrências.

"Estou reunindo forças e coragem para continuar, isso é uma certeza," comenta Daniel, em relato a esta jornalista.

Rafaela Rodrigues - Jornalista

Brasil Novo

Autor: Eduardo Maskell
http://eduardomaskell.blogspot.com/


Quando manchou o manto verde
O sangue português, chamou-se
Brasil a toda água que aqui fosse
Fonte. Pisou-se na terra, subiu-se
Ao monte e gritando a guerra, à
Guerra! Roubaram pedra a pedra
Nosso brilho mais distante. Nossa
Riqueza que não dava provas o
Diamante. Ouro de cor amarela,
Somente. Que por isso seria belo,
Semente sem vermelho valor do
Fruto podre que nos vende. Ah,
Portugal! Como minha alma te
Ressente! Depois de ter sentido
Mal, sentido mais! Na pele nua
Teu sabor de Alcatraz. Repudiosa
Nau que te guiaste à paz da minha
Secreta vida harmoniosa. Selvagem
Amor e ódio que tu desconhecias,
Sacrificante povo, renunciante à
Mais real e triste alegria. De viver
E matar para a alma comer. Para a
Honra do guerreiro não só honrar:
Mas ser. Coragem que foi de ti há
Muito vendida. Por medo guardada
Em segredo e esquecida. Neste fundo
Mistério de tua História onde também
Há de ressentir outra a tua alma cristã
Mas culpe então a Deus, não a Tupã!
Pela desgraça do peito teu. Da cruz
Que tua mentira reluz branca. Tua
Roupa rasga enfim e vê ser tua raça
Minha irmã. E a sífilis do teu falo
Mais enoja que inveja. Branca fé,
Aqui te cuspo! Meu espírito pagão
Ainda guarda a chaga da escravidão
Do negro susto! Que agora somos
Animais fugitivos do teu abandono
Filhos bastardos da Nação. Brasil,
Rima parda e negra para mão vil
Sujamos o teu nome, nosso Brasil!
Por não poder nossa pele escolher
Ser branca, limpa deste teu sofrer
Brasil! Não te quero casto, reto
Livre do teu passado mais certo
Mas em ti quero ser livre! Quero
O direito de ser teu filho. Amar-te
Não pelo dever. Com a liberdade
Saudar todas as suas cores, todos
Os seus sexos. Todos os amores
A Deus e contra Ele o protesto.
Brasil de todos os pais, de todas
As mães, Brasil de mamãe Oxum
Brasil ateu, de mãe e pai nenhum
Mas Brasil brasileira. E brasileiro
Seja de todos o teu presente, seja
Sonho o que vem pela frente, mas
Seja sonhar a realidade. Pela paz,
Pelo futuro que teus lábios beija,
Busquemos o novo e muito mais!

domingo, 21 de novembro de 2010

Nunca deixe seu filho mais confuso que você

Autor: Lourenço Diaféria

De manhã, na copa. O pai mexe o café na xícara. O filho caçula vem da sala, dispara:

— Pai, o que é genitália? O homem volta-se:

— Ge... o quê?

— Genitália.

— Onde é que você tirou isso, da sua cabeça?

— Tá no jornal, pai.

— Genitália, no jornal? Bem, esse assunto não é comigo agora. Já estou atrasado pro trabalho. Cadê sua mãe? Rita! Ritinhaaaaa! Onde é que essa mulher se enfiou? Rita, venha ouvir aqui o que seu filho está aprontando.

Dona Rita desce esbaforida:

— Algum problema, Gervásio?

— Problema nenhum. O garoto está apenas querendo saber o que é genitália. Explique pra ele. Estou de saída.

— Genitália? Eu? Isso é conversa de homem pra homem. Vai dizer que você não sabe?

— Saber eu sei, lógico. Mas há coisas que a gente sabe o que é na teoria, mas fica difícil de explicar na prática.

— Deixa de bobagem.

— Tá bom. Depois, se eu pegar trânsito, quero só ver.

— Pode deixar, pai. Não precisa ficar discutindo você e a mamãe por causa de uma palavra. Eu pergunto pra tia da escola.

— Tá louco? A tia pode pensar mal da gente. Deixa comigo. Presta atenção: genitália é o mesmo que partes pudendas. Genitália é uma coisa muito antiga. Já existia no tempo do seu bisavô. No século passado, quando seu bisavô estava vivo, as pessoas tinham pudor. Elas ocultavam do público certas partes do corpo. Chegavam até ao exagero. As partes que ficavam mais resguardadas formavam, exatamente, a genitália. A genitália eram as partes pudendas.

— O umbigo era genitália, pai?

— Não. Na verdade, não era. Vou tentar explicar melhor. As pessoas tinham vergonha de mostrar o corpo. E uma certa parte do corpo era reservada ao extremo. Não aparecia nem em filme francês. As pessoas chamavam esse território misterioso de vergonhas. Isso é que é a genitália moderna.

— Bumbum é genitália, pai?

— Não. Acho que não estou sendo muito claro. Ritinha, você não quer dar uma mão?

— Não. Assuma.

— Bom, vou pras cabeças. Ahnnn. Hummmm. Abaixe as calças. Mais. Até os tornozelos. Isso. Pronto, tá aí a genitália.

— O umbigo?

— No térreo do umbigo. Que é que você vê embaixo do umbiguinho?

— Pô, pai. Vai dizer que o senhor não sabe o que é isso? É meu bingolim, pai.

— Ta aí. O bingolim é a genitália do homem.

— Puxa, o senhor podia ter falado antes.

— Na vida, às vezes é preciso usar eufemismos. Por exemplo, a genitália da mulher tem um nome delicado, leve, ágil. Sabe o que estou querendo dizer, não sabe? Começa com b.

— Barata da vizinha?

— Não, filho. Borboleta.

domingo, 14 de novembro de 2010

Neocons à brasileira

Via http://www.cartacapital.com.br/

Autora: Cynara Menezes

Ao tomar a hóstia em Aparecida, beijar o terço em Goiânia e erguer como uma taça a imagem de Nossa Senhora da Abadia, em Uberlândia, o tucano José Serra não apenas bajulava o voto do eleitor cristão em campanha, mas selava o próprio destino. Identificado com a esquerda durante toda a sua vida política, Serra sai da eleição como a cara mais visível de um movimento que pretende fincar as raízes do ultradireitismo no Brasil. Espécie de versão brazuca do americano Tea Party, a nova direita que emerge das urnas pauta-se menos pela austeridade nos gastos governamentais e mais por uma moral retrógrada e um nacionalismo infantil que geralmente descamba para o preconceito.

Nos Estados Unidos, o Tea Party surgiu em 2009 a partir da constatação feita por um grupo de políticos conservadores, liderados pela ex-candidata a vice e ex-governadora do Alasca Sarah Palin, de que parte da classe média branca do país perdera privilégios ao longo dos anos – e, mais ainda, com a eleição de um negro, Barack Obama, para a Presidência. O ódio e o preconceito dessa fatia do eleitorado já haviam se manifestado na primeira eleição de George W. Bush, em 2000, quando uma massa de branquelos do Meio-Oeste foi às urnas contra propostas de liberação do casamento gay e do aborto, associadas aos democratas. Foi esse grupo um dos responsáveis pela vitória de Bush Júnior. A mesma turma alçou Palin ao estrelato e reduziu o espaço dos moderados no Partido Republicano.

Não à toa, o movimento Tea Party apoia a lei em vigor no Arizona desde julho- que permite prender e expulsar imigrantes pelo simples fato de não estarem de posse de documentos. Aqui, as vítimas da versão brasileira dos red necks são os nordestinos, a quem se “culpa” pela vitória de Dilma Rousseff no domingo 31.

Disfarçada na política, a aversão aos nordestinos invadiu as redes sociais, sobretudo o Twitter, na segunda-feira 1º de novembro, na manhã seguinte à confirmação da vitória de Dilma. Uma estudante de Direito de São Paulo, Mayara Petruso, deu a senha para uma enxurrada de manifestações preconceituosas ao postar a seguinte mensagem: “Nordestisto (sic) não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!” Seguiram-se dezenas de outras, todas no mesmo tom: “Trocaram voto por miolo de pão!”, “Valeu Nordeste, mais quatro anos vivendo às nossas custas”, “80% do Amazonas votam na Dilma… cambada de índio burro”, e coisas do gênero.

Mayara acabou alvo de uma representação movida pela seção pernambucana da Ordem dos Advogados do Brasil no Ministério Público Federal por racismo (pena de dois a cinco anos de detenção, mais multa) e incitação pública de prática de crime. Houve reação no próprio Twitter contra as mensagens preconceituosas e em defesa da população do Nordeste, mas foi incapaz de reduzir a onda antinordestina. Em entrevista ao portal Terra, uma representante do autodenominado Movimento São Paulo para os Paulistas chegou a afirmar que as críticas às mensagens sórdidas eram uma tentativa de “vitimizar o Nordeste”.

A enxurrada de mensagens preconceituosas foi também a demonstração de ignorância e desinformação. O argumento de que foram os nordestinos os responsáveis pela vitória petista não se sustenta pelos números: a ex-ministra seria eleita mesmo sem os votos do Norte e Nordeste. Se fossem computados apenas o Sul e o Sudeste, teria 29,7 milhões de votos, contra 29,4 milhões de Serra. Na capital paulista, de onde saíram muitas das mensagens ofensivas contra os nordestinos, Serra ganhou apertado, com apenas 466 mil votos de diferença. Perdeu feio em dois estados do Sudeste – Minas Gerais e Rio de Janeiro. Na terra de Aécio Neves, Dilma abriu vantagem de 17 pontos porcentuais, o que praticamente anulou a dianteira de Serra em São Paulo. No Rio, a petista obteve 4,9 milhões de votos, contra 3,2 milhões de Serra.

No Rio Grande do Sul, a vitória do tucano foi ínfima: pouco mais de 100 mil votos. Os estados do Sul e Sudeste onde- de fato o candidato do PSDB derrotou a futura presidente com folga foram o Paraná, com margem de 700 mil votos, e Santa Catarina, com vantagem final de 473 mil. Serra obteve vitórias esperadas em estados movidos pelo agronegócio, em queda de braço com o governo Lula em virtude da desvalorização do dólar. Assim como também era esperada pela oposição a larga vantagem da candidata do presidente no Nordeste: Dilma teve 18,4 milhões de votos na região, contra 7,6 milhões. Nem por isso, Serra pode ser considerado o candidato dos ricos, como não se pode desqualificar o eleitor de Dilma, praxe em editoriais e artigos na imprensa na semana pós-segundo turno.

Infelizmente, é inegável que foi a campanha do PSDB a estimular essa diferença, mais do que qualquer frase de Lula a cerca dos “nós contra eles”. Mergulhado até o pescoço na estratégia religiosa, antiabortista e impregnada de preconceito imaginada pelos artífices de sua exposição marquetológica, Serra deu o tom do embate entre paulistas e o resto do País no encontro da RedeTV! em 17 de outubro. “Essa estratégia de falar mal de São Paulo foi reprovada”, disse o tucano. E foi além ao declarar que “o PT não gosta de São Paulo”. Uma semana antes da eleição, o PSDB distribuiria panfletos com a frase “Dilma não gosta de São Paulo”, mesmo título do vídeo postado no canal oficial do candidato no YouTube. Ambos afirmavam que a petista “prejudicou São Paulo durante sete anos”.

Nos jornais, colunistas e editoriais davam a sua colaboração para que o preconceito contra os nordestinos viesse à tona. Por um lado, desqualificava-se a vitória de Dilma como representativa dos votos “menos conscientes” em contrapartida à racional escolha dos “mais escolarizados” pelo PSDB. Uma colunista chegou a escrever que Dilma e o “lulismo” só venceram a eleição “graças à votação maciça nas regiões e áreas mais manipuláveis, onde a Arena, o PDS e o PMDB já foram reis”. Daí aos “ricos” do Sudeste e Sul se jogarem contra os “pobres manipulados” do Norte e do Nordeste foi um pulo.

Professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e autor do livro Preconceito contra a Origem Geográfica e de Lugar (Ed. Cortez), Durval Albuquerque Jr. diz que a questão é justamente o contrário do que dizem os analistas. “Não se votou em Dilma no Nordeste porque se sente fome, e sim porque o governo fez o povo comer”, argumenta. “Enquanto o País crescia a 4% ao ano, o Nordeste crescia a 8%, 9%. Houve uma inclusão imensa, que se reflete na votação maciça que o PT teve na região. O Bolsa Família não é alienante, como se diz, é o inverso: conscientizou as pessoas, fez elas se sentirem gente e passarem a exigir mais.”

O resultado é que mesmo entre as classes médias do Nordeste existe hoje o preconceito observado no Sudeste e no Sul, alerta o professor. “Eles queixam-se de que já não se contratam empregados com tanta facilidade, pagando qualquer coisa.” O historiador conta que o preconceito contra os nordestinos em São Paulo surgiu na década de 1920, quando começou a migração interna e os baianos foram os primeiros a chegar – por isso até hoje “baiano” é a forma genérica de se referir ao nordestino no estado. Para o Rio, a partir da década de 1930, migraram os sertanejos acima da Bahia, e ficaram conhecidos como “paraíbas”.

Em São Paulo, a chegada dos nordestinos desencadeou tensões na classe operária. Houve disputa pelos postos de trabalho com os imigrantes estrangeiros, trazidos pela política de “branqueamento” do estado. Segundo o historiador, contribui para o preconceito a construção da imagem do Nordeste flagelado, miserável, atrasado e ignorante feita pela própria elite da região para obter recursos e cargos diante do crescimento do Centro-Sul. “Só que essa realidade vem se transformando e muita gente não viu. Está cada vez mais defasada, só existe em termos de estereótipo. O político nordestino quando faz algo errado ainda é chamado de ‘coronel’, mas não ocorre o mesmo quando vem do Sul ou do Sudeste.”

Latente, o preconceito vem à tona quando estimulado. E parece ser mais regional que partidário. Tome-se o caso dos dois Grazianos, Xico (tucano) e José (petista). Ambos paulistas. O tucano usou o Twitter para alfinetar o companheiro de partido Aécio Neves em virtude da vitória, segundo ele, “nordestina” de Dilma em Minas Gerais. Já o petista José causou polêmica no começo do governo Lula. À época ministro da Segurança Alimentar, declarou sobre o Nordeste: “Temos de criar emprego lá, temos de gerar oportunidade de educação lá, temos de gerar cidadania lá. Porque, se eles continuarem vindo pra cá, vamos ter de continuar andando de carro blindado”.

Mas será que se um partido assumisse esse discurso segregacionista teria futuro no País? Não assumidamente, mas sub-repticiamente é possível que sim. Há um ano, o diretor do instituto Vox Populi, João Francisco Meira, compila dados que apontam para um vácuo: falta um partido assumidamente de direita no Brasil. De acordo com Meira, nenhuma das legendas existentes, inclusive o DEM, se declara. “Há condições para o crescimento da direita. A campanha do Serra, nesta eleição, explorou esse espaço e o resultado final das eleições mostrou que ele é relevante.”

O diretor do Vox afirma que metade dos votos recebidos por Marina Silva, do PV, no primeiro turno, era de direita, conservador. E foram exatamente esses votos que foram para o tucano no segundo turno. “O Serra conseguiu captar todo o voto conservador da Marina. Isso rendeu a ele um terço a mais de votos do que teve no primeiro turno”, diz Meira.

A professora de Ciência Política da Universidade de Brasília, Lúcia Avelar atenta para o fato de essa guinada à direita de uma parcela do eleitorado representar uma reação à mobilidade social propiciada pelo governo Lula. “Como havia uma distância muito grande entre as classes, é como se pensassem: ‘Puxa, eles estão se aproximando. Vão sentar ao nosso lado no cinema, no teatro’. Mexer no status quo incomoda muita gente.”

Para se inserir de vez no contexto conservador que ensaiou nesta eleição, Serra enfrentará obstáculos dentro do seu partido, o PSDB. Seria temerário dizer que existe uma tendência direitista dentro do tucanato como um todo: Aécio Neves, por exemplo, está mais identificado com o centro, assim como Teotônio Vilela, governador reeleito de Alagoas. Uma alternativa para este novo Serra seria fundar outra legenda, que absorvesse setores do PSDB, DEM e dos demais partidos conservadores, como o PP. Ou esperar uma saída de Aécio da legenda, que levaria a ala não paulista do partido consigo e abriria espaço para uma hegemonia do ex-governador de São Paulo.

A eleição de Felipe Calderón no México, em 2006, e, mais recentemente, de Sebastián Piñera no Chile, comprova que existe espaço para uma direita não golpista na América Latina. De qualquer forma, parte da oposição brasileira parece encantada com o estilo neocon dos republicanos. Do ponto de vista eleitoral, não se pode negar, ela deu resultados – e no curto prazo. Como se verá na reportagem de Antônio Luiz M. C. da Costa à pág. 58, Obama sofreu uma derrota fragorosa nas eleições legislativas, a maior de um partido governista nos Estados Unidos desde o fim dos anos 1930. Uma das razões deve-se à campanha republicana permanente, iniciada logo após a vitória de Obama, e baseada em preconceitos e mentiras. Velhos temores da Guerra Fria (Obama seria “comunista”) misturam-se a novos (ele seria a favor do Islã). Resultado: presos a uma pauta moralista e insatisfeitos com o resultado de uma política econômica aprofundada sobre o mandato do antecessor Bush, os norte-americanos não conseguem debater temas realmente cruciais ao seu futuro.

Parece ser essa a diferença entre uma velha direita, liberal e centrada na defesa das liberdades individuais contra um suposto Estado opressor, e a atual. Ao redor do mundo, quem ganha espaço entre os conservadores são partidos defensores da xenofobia, do racismo e do obscurantismo religioso.

No fim das contas, tenha ou não sido proposital, essa foi a cara da campanha de Serra no segundo turno, pois nem o racionalismo econômico pôde lhe ser atribuído, vide as propostas de reajuste do salário mínimo a 600 reais e o 13º para os beneficiários do Bolsa Família (ironicamente atacados pelos eleitores tucanos na odiosa campanha na internet). No seu discurso na noite do domingo 31, o ex-governador paulista diz ter dado um “até logo, não um adeus”. Para quem tanto defendeu sua biografia na disputa presidencial, Serra poderia voltar à cena como defensor intransigente dos valores democráticos que ele tanto diz prezar. O Brasil agradeceria.

Juiz é afastado por preconceito (de inspiração religiosa)

Via http://www.terra.com.br/

CNJ afasta juiz que chamou Lei Maria da Penha de "diabólica"

Por nove votos a seis, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu nesta terça-feira afastar um juiz de Sete Lagoas (MG) de suas atividades que considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha em diversas ações contra homens que agrediram suas companheiras. Edilson Rumbelsperger Rodrigues alegava que a legislação reunia "um conjunto de regras diabólicas" e que "a desgraça humana começou por causa da mulher". O grupo que votou a favor do afastamento do juiz entendeu que ele usou em suas decisões uma linguagem discriminatória e preconceituosa.

O afastamento do juiz está previsto na Lei Orgânica da Magistratura, que considera "grave" a atitude de um magistrado. Porém, não o leva a aposentadoria compulsória. Rodrigues receberá salário proporcional ao tempo de serviço e poderá pleitear o retorno ao trabalho após dois anos de afastamento.

Em nota divulgada para sua defesa, Rodrigues disse que não ofendeu ninguém, apenas se posicionou contra a legislação "em tese".

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O que esperar de uma mulher na Presidência?

Autora: Maíra Kubik Mano

http://viva.mulher.blog.uol.com.br/

Ao que tudo indica – a não ser que os institutos de pesquisa estejam redondamente enganados – o Brasil terá, a partir de janeiro de 2011, uma mulher na Presidência da República.

Uma mulher!

É verdade que três mulheres já haviam nos governado antes: D. Maria I (à distância, ainda como rainha de Portugal), Maria Leopoldina (esposa de D. Pedro I) e a Princesa Isabel. Mas, com exceção de D. Maria I, as outras duas funcionaram apenas como "tapa-buracos" – sim, eu sei, uma delas assinou a abolição da escravatura, mas ainda assim... E, obviamente, todas vinham da Família Real portuguesa, uma referência cada vez mais longínqua na nossa história.

Dilma Rousseff será a primeira mulher eleita pelo povo para dirigir o Brasil. Simbolicamente esse é um fato incrível, independente de sua matiz ideológica. Em especial se considerarmos o quanto as mulheres seguem sub-representadas na política nacional: nessa última legislatura, éramos apenas 8,97% da Câmara Federal e 12,34% no Senado, número que caiu em 2010. Aliás, se nossa base de cálculo fosse essa, eu arriscaria afirmar que demoraríamos mais uns cem anos para ver a cena que ocorre hoje.

Dito isso, é preciso ter em conta que a eleição de Dilma não é sinônimo de termos um governo que apóie pautas feministas. Já teci longos comentários aqui sobre a masculinização da política e como muitas mulheres se comportam como homens para poder chegar ao topo. Dilma não é diferente. Tanto que sofreu com muitos boatos cruéis e "acusações" sobre sua sexualidade como reações ao endurecimento de postura.

Vale lembrar que a candidata também não tem tradição de militância no campo de gênero, diferentemente de seu partido, o PT. E, além de não ter um olhar mais aguçado para esse tema, sua campanha eleitoral não deixou dúvidas sobre os parâmetros dos quais vai partir o novo governo: os da família, no molde mais tradicional e opressor possível. Basta lembrarmos que Dilma ressaltou seu papel de mãe (e avó) em contraposição à legalização do aborto, ainda que tenha dito que não deixaria mulheres que precisassem de curetagem morrer na porta dos hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde).

Na verdade, se pensarmos no quão conservador se tornou o debate em torno dessa questão, não seria exagero dizer que o cenário piorou para as pautas historicamente ligadas ao feminismo. E, para além de ações isoladas, principalmente da Secretaria de Políticas para as Mulheres, o governo Dilma dificilmente contribuirá para reverter isso.

Resta torcer (e pressionar) para que alguns ventos dos pampas e da Cordilheira a inspirem, arejando a cena política brasileira. Dilma será a terceira mulher presidente na América do Sul e seria bom se, em alguns pontos, ela seguisse o exemplo de suas correlatas. Michelle Bachelet, ex-mandatária chilena e atual diretora da ONU Mulher, nomeou 50% de mulheres em seu gabinete quando presidente – medida tomada também pelo boliviano Evo Morales. Já a argentina Cristina Kirchner não só aprovou o matrimônio gay como deixa o país a um passo de descriminalizar o aborto.

É, pensando bem, talvez um vento seja pouco para o que foi essa onda terrível que assistimos no segundo turno. Esperemos, então, por um tsunami político para mudar o rumo das coisas.

Brasileira pede excomunhão

Via http://viva.mulher.blog.uol.com.br/

À Sua Santidade Papa Bento XVI

00120 Via del Pellegrino

Citta del Vaticano

Pedido de excomunhão
# São Paulo, 29/10/2010

Prezadas autoridades eclesiais,

Eu, Maíra Kubík Mano, cidadã brasileira, 28 anos, venho, por meio desta, solicitar à Igreja Católica Apostólica Romana minha excomunhão.

Fui batizada involuntariamente, quando tinha poucos meses de vida, pelos meus pais. Eles nada mais fizeram do que seguir a tradição de seus antepassados e não pretendo nem vou responsabilizá-los por isso.

Contudo, aos 9 anos, fui de livre e espontânea vontade tomar a comunhão (Eucaristia). Fiz o curso necessário para tanto na Igreja Nossa Senhora do Brasil, em São Paulo, SP, Brasil. Durante nove meses, aprendi os preceitos católicos e estudei passagens bíblicas. Em seguida, participei da cerimônia em que recebi, pela primeira vez, a hóstia, ou o corpo de Cristo.

Desde então, fui à missa poucas vezes e, com o passar do tempo, identifiquei-me cada vez menos com a doutrina católica. Ou, melhor dizendo, com aquela pregada diretamente pelo Vaticano.

É preciso aqui fazer uns parênteses para afirmar que tenho, isso sim, laços fortes com a chamada Teologia da Libertação, que inundou de solidariedade e compromissos sociais os rincões do Brasil na segunda metade do século XX. Mas com esse grupo, imagino, você não está preocupado. Conseguiu isolá-lo, desautorizá-lo, diminuí-lo. Porém, quero registrar aqui que não foi possível enterrá-lo. O exemplo de sua força segue vivo com D. Pedro Casaldáliga, Dom Tomás Balduíno e tantos outros.

De qualquer forma, cheguei à conclusão de que tenho um desacordo absoluto e completo com Sua Santidade, sem possibilidade de repactuação. Entre os pontos mais prementes sobre os quais temos visões diametralmente opostas estão legalização do aborto, casamento gay e utilização de preservativos durante o ato sexual. Isso só para começar a conversa. Poderia discorrer páginas e mais páginas sobre o lugar subalterno e humilhante que vocês têm reservado às mulheres durante séculos a fio.

A gota d'água que me levou a redigir essa carta foi a orientação de Vossa Senhoria para que os pastores orientassem politicamente seus fiéis com base em preceitos morais, tendo em vista a eleição para a Presidência da República que ocorre no próximo domingo (31/10/2010). Bem, para mim o único preceito válido é o do Estado laico e considero um absurdo completo a Igreja se pronunciar sobre isso. Religião e governo misturados é uma fórmula maléfica, que prejudica as liberdades individuais e coletivas.

E, como se tudo isso não fosse suficiente, atualmente eu me defino como atéia.

Sendo assim, peço que Sua Santidade seja sensível o suficiente para compreender que eu não quero mais ser considerada uma parte deste rebanho. Nem oficialmente, nem extra-oficialmente, e me conceda a excomunhão.

Obrigada desde já,

Maíra Kubík Mano

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Escárnio sobre a Sexualidade

Autor: Eduardo Maskell

http://eduardomaskell.blogspot.com/2010/10/escarnio-sobre-sexualidade.html


Nós humanos não temos nada de tão misterioso. Como as plantas, a gente nasce, cresce, se reproduz e morre. Mas pra isso a gente faz sexo. Ah, a gente faz sexo...

A minha mãe fez sexo. A sua mãe fez sexo. E o meu pai fez sexo com a minha mãe (e com a sua também, quem sabe). Se você nasceu, é porque duas pessoas se olharam nos olhos. Palpitaram de emoção. Sentiram crescer as raízes do amor. E foderam. A sacanagem é condição básica para a existência. Não só por que somos filhos dela. Mas por que a libido vem antes de tudo. Fazemos sexo com nossos parceiros, fazemos sexo com nossos amigos, fazemos sexo com nossos familiares. Isso mesmo, aquela prima, aquele primo... Ou o velho Édipo. Quem não conhece a história daquele esquisito que comeu a mãe? Fazemos sexo com a comida, com o dinheiro, com nós mesmos. E nem precisamos usar as mãos. Fazemos sexo com os outros animais. Vivos, mortos. Sexo com o divino espírito santo! Amém. O que isso quer dizer é que todo mundo faz sexo: até mesmo quem não faz. Basta pensar nos palavrões. Uma coisa boa é uma coisa foda. Uma coisa ruim também. E a porra da violência, a porra da política, a porra da televisão. A porra desse mundo fodido pra caralho. Uma ereção a cada palavra, uma ejaculação a cada frase. E tudo no masculino. Puta que pariu...

Qual o grande problema com as putas? Elas são mulheres, ora. Já sei: esse é o problema. Mas elas são humanas! Como seu pai, pra quem elas dão o cu. Ah, tá. Vai dizer que seu pai não é disso. É, nem o meu. E por isso mesmo não existem putas no mundo. Né? Ninguém quer se contaminar com os pecados da carne. Ninguém quer se contaminar com as perversões sexuais. Todo mundo quer seu pedaço no céu da sociedade. Todo mundo quer seu pedaço de sanidade. Por isso eu digo a todo mundo: vá tomar no cu! O que nem deve ser ruim. Não sei, não sei... Mas é o melhor que podem fazer para as suas vidas. Se você vai pra igreja, é porque sua mente é poluída e você quer limpar ela. Se você não vai pra igreja, é porque sua mente é poluída e você nem se preocupa em limpar ela. Claro, tem gente que não faz sexo mesmo. E vai muito bem, por que não? Mas o que estou falando aqui é das Virgens Marias e Josés. A norma da sociedade é faça sexo ou não faça sexo. É fale de sexo ou não fale de sexo. E então as pessoas fazem ou não fazem, falam ou não falam. E do jeito que querem que elas façam (ou não) e do jeito que querem que elas falem (ou não).

E que porra é educação sexual? Os mocinhos colocam a camisinha no seu pintinho pra meter ele na bucetinha das mocinhas. Ah, vá! Vá, vá, vá, vá, vá, vá... tomar no cu! E se o mocinho quiser o mocinho? E se a mocinha quiser a mocinha? E se o mocinho quiser ser mocinha, a mocinha ser mocinho e o sexo não for pra descobrir de onde vêm os bebês? Porra, o mundo tá doente! Mas o problema não são os homossexuais ou os transsexuais ou os interssexuais. Nem os heterossexuais. Ou bissexuais, ou panssexuais ou assexuais ou o sexo em qualquer forma. Os doentes desse mundo são os que não estão doentes. Aqueles que fazem o sexo da sua forma correta e saem por aí ensinando a todo mundo como é que se faz sexo. Venham aqui que eu vou lhes ensinar como é que se faz sexo! E se fosse algo sagrado, tenho certeza que era Deus quem viria ensinar como é que se faz. Se ele não veio, quem são vocês pra substituir ele? Então parem de encher tanto a cabeça das pessoas sobre esse assunto. Deixem as pessoas gozar direito. Deixem as pessoas gozar sozinhas. Deixem as pessoas gozar! E elas saberão melhor que vocês cuidar do gozo delas.

Obrigado e vão tomar no cu! Minha avó estaria orgulhosa de me ouvir dizer isso.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Autor: Leon Monteiro Sampaio

Pra mim, quem é contra o Estado laico e defende a intromissao da religiao em decisões que afetam todos (de diferentes religiões e não-religiosos) só tem essa postura no momento em que é a SUA religião que tem o maior poder de influência.
Se nos próximos anos houver uma onda de islamismo aqui no Brasil e eles tentarem adaptar as leis à religiao deles, todo mundo vai chiar.

Sou a favor de um Estado laico simplesmente porque não acho justo que pessoas não-religiosas (ou de outras religiões que não a da maioria) sejam obrigadas a seguir regras que deveriam se aplicar SOMENTE a quem pertencesse a um determinado grupo religioso.

Em um nível superior e mais abrangente deve haver a Declaração Universal dos Direitos Humanos, válida para TODAS as pessoas em TODO o mundo. A partir dela, deve-se adaptar às leis de cada local.
Independente da localização geográfica ou da cultura local (incluindo religião como uma parte dela), por exemplo, deve ser combatido com todo vigor o apedrejamento de mulheres, o trabalho escravo, a mutilação genital de crianças, o sacrifício humano, o assassinato de recém-nascidos deficientes ou de um dos irmãos que nascem gêmeos, dentre outras formas de violência geralmente corroboradas e/ou estimuladas pela cultura/religião de um povo.

Esses sao os limites. Fora isso, TODAS as manifestações culturais devem ser toleradas. Em cima dessa diversidade que deve ser trabalhada a Constituição. Vou tentar dar um exemplo absurdo pra ficar mais fácil a visualização:
Digamos que exista um país democrático chamado País. Nele, 70% da população segue a religião A, 20% segue a B, 5% a C e 5% também não são religiosos, rejeitam todas as 3 religiões anteriores.
A religião A só permite que seus seguidores pratiquem sexo na posição do "missionário". O resto nao ta nem ai pra vida sexual de ninguém.
Como a religiao A é maioria absoluta em País, caso se permita discutir uma lei que criminalize outras posições sexuais além da do missionário por questões puramente religiosas, é provável que a lei entre em vigor.
Democraticamente tá ok, mas é JUSTO? Você acha correto que uma minoria (relativamente considerável nesse exemplo) deva ser submetida a um policiamento do Estado por causa de uma questão religiosa, subjetiva e íntima, com grandes riscos de serem penalizadas por isso?

Os sacerdotes da A que eduquem seus seguidores, o Estado não tem nada a ver com isso! Se um seguidor não conseguir se adequar a essa "regra", ele pode achar irrelevante e continuar se considerando um A, ou pode contestar essa "regra" de 2 maneiras: fundando um ramo dessa religião onde essa "regra" não exista ou abandonando essa religião A pra se tornar um B, C ou não-religioso.

Por um país livre,

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domingo, 24 de outubro de 2010

A incoerência dos "pró-vida" - George Carlin

Sim, eles são muito incoerentes.



Mas chega de falar deles!

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sábado, 23 de outubro de 2010

Balanço da Semana

Na USP (http://migre.me/1Jt41) os opositores pararam de responder. Na UFBA (http://migre.me/1Jt5r) eles começaram a, literalmente, repetir as respostas. De forma imbecilizada, quase inexplicável. Um milagre às avessas (?)

Variam entre motivar o dogmatismo religioso na política ou tentar desqualificar as estatísticas apresentadas nos nossos argumentos, cujas fontes citamos, a exemplo da Pesquisa Nacional de Aborto, e eles dão provas que nunca consultaram, nem parecem pretender consultar. Dogmatizam os dados, fecham os olhos a estes e a muito mais, a ponto de dizerem "Eu nunca vi uma mulher ir a um hospital, vítima de complicações de aborto, deixar de ser atendida pq é crime o aborto"(!) Simplesmente atacam as pessoas como crianças o fariam (e melhor que eles). Insistem no tema aborto, reflexo de campanhas (não discussões) para o segundo turno das eleições. Triste pensar que para alguém isso é democracia. São pessoas que defendem abertamente o direito dos líderes religiosos em guiá-los como ovelhas e isso dito assim, com essas palavras. Nem podemos dizer aqui que é um problema da religião. Há quem acredite em Deus, mas ainda toma decisões sobre sua vida: vivendo. Mas, infelizmente, muita gente delega isso ao padre, pastor ou qualquer outro que os conquiste não com palavras de Deus, mas palavras de uma direita conservadora, usando instrumentos perversos para controlar mentes. Um desses instrumentos, vale aqui citar, é a grande mídia, que mente - podemos dizer com certa ironia - religiosamente. Não se trata (apenas) de omissão de fatos, mas escamoteamentos e distorsões absurdas. Transformam o aborto em questão eleitoral, um rolo de durex em "bobina" (boo!) e jornal Estado de Minas em PT. De repente ir contra essa forma domesticadora de poder é ser "esquerdalha", "abortista", entre outras coisas que nunca colocamos em defesa, mas eles insistem em colocar em ataques.

Afinal, virou crime defender a liberdade?

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Democracia

As falhas na consolidação do Estado laico se misturam com as falhas na consolidação da democracia. Há quem não entenda por que discutir qualquer dos dois assuntos, já que estariam em funcionamento perfeito atualmente. Pela via democrática, nós nos opomos a essa ideia (e não somos só nós); e por essa mesma via, temos direito (ou até dever) de reclamar, debater e participar. Como dissemos em resposta a um dos opositores no debate da USP (http://migre.me/1JhCH): o debate leva em conta os que concordam e os que discordam. Maioria ou minoria que seja cada lado, se existe um para se opôr ao que seja, há necessidade de discutir o que seja. É assim numa democracia.



Motivos semelhantes, acreditamos, levaram José Saramago a fazer esta breve e certeira crítica, da qual compartilhamos.

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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Documento da Semana CQC - Aborto

Acrescentando ao tema aborto, matéria do último CQC:



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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Discurso de Obama sobre religião

O atual presidente americano Barrack Obama discursou sobre religião, em uma posição semelhante à que aqui temos. Os EUA sofrem com as amarras do conservadorismo entranhado na sua política. E o Brasil?



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Convite

Relembramos a necessidade de nos mobilizarmos por todo o país, virtualmente, o que estamos conseguindo e pode ser promovido, mas também presencialmente, o que precisamos iniciar. É um movimento de muita importância nesse momento de eleições e que tem também respaldo para além dele. Estamos disponíveis para contato em:

Orkut - http://migre.me/1D1q8
Blog - http://estadolaicoja.blogspot.com/
Twitter - http://www.twitter.com/estadolaicoja
E-mail - estadolaicoja@gmail.com

É isso, convite aberto!

Por um país livre,

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Trono vago

Seguimos com os debates nos endereços listados abaixo. Para acessá-los, basta ter um perfil no Orkut - http://www.orkut.com/

UFBA - http://tinyurl.com/2bvuxvx
USP - http://tinyurl.com/29m4r63
UFPR - http://migre.me/1Bwcr
Esquerda - http://migre.me/1CSV8
Filosofia - http://migre.me/1CSXi

Expusemos o tema ainda em outras comunidades, mas com menor efeito. Continuamos com a tarefa de expandir a discussão. Pensamos em ter um fórum "fixo", com endereço próprio, à parte do Orkut. Estamos avaliando para ver como agir e qual é a melhor opção. Essas questões mais práticas e qualquer mudança relativa serão noticiadas no blog, que serve para isso e também para registros como os que fizemos e este que agora vamos fazer.

Nas comunidades acima citadas com seus endereços, esforçamo-nos para manter um bom debate, o que, para nós, significa pautá-lo com ideias, raciocínios, enfim, argumentos com que contestamos e pelos quais somos contestados. Com isso conseguimos muita oposição, inclusive de pessoas que tentaram desvirtuar o debate dessa sua condição dialético-democrática.

Acontece que nossas ideias podem ser postas a prova, sendo elas mesmas resultado de outras ideias postas a prova, por nós mesmos ou não. São todas inacabadas como têm que ser. Desta forma a contestação não só é possível, como também é necessária e bem-vinda. Nós buscamos ser compreendidos antes de sermos aceitos. O contrário acontece com as ideias que alguns opositores dogmáticos colocam contra a gente. Difícil refutá-las.

Acessando o endereço da discussão na UFBA (http://tinyurl.com/2bvuxvx), verão que ironicamente se alternam e se repetem os opositores. Alternam-se porque muitos desistem do debate e dão lugar a outros, os quais se repetem nos erros que levaram à desistência dos primeiros: atacar, atacar e atacar, como se nada dissemos de relevante ou irrelevante, de argumento realmente. Algo próximo de acontecimentos das eleições atuais. O que diferencia é que nesse caso argumentamos sim, e com relativa pertinência.

Mas ora, se este outro não entende nosso argumento - o que, mais uma vez, é diferente de aceitá-lo - por que há de ser culpa dele? Pode ser problema nosso, já que não somos claros o suficiente (e não estamos sendo irônicos aqui). Todo o tempo tentamos deixar transparente que, antes de apoiarmos ou condenarmos o aborto, a união homoafetiva e demais temas, o que mais defendemos e buscamos é a liberdade para debatê-los com democracia em um Estado laico.

Para bem ressaltar as ideias, vale a arte, dando-lhes nova paixão e consequente compreensão. Neste caso, uma poesia:

Trono vago

Matheus Santos Rodrigues Silva
http://migre.me/1CZV6

Deusa intangível, onde estás?
Procuram-te em toda a imensa terra;
buscam-te há tempos ancestrais;
por ti todo o mundo entrou em guerra!

Que imagem é essa que se mostra?
Que falsa figura se anuncia?
É uma cópia desastrosa!
Inerte, morta... tão vazia...

Não é você, oh deusa adorada!
É alguma farsa usurpadora!
Essa dama nem ao menos fala!
É insossa, fraca, é tola!

Onde está você? Me diga!
Em que tempo esqueceu-te a sorte?
Onde está a tua mão amiga?
O teu pensar e o teu discurso forte?

Essa mentira tem que parar!
Por que o mundo se cala?
Não podemos aceitar
uma líder que nem fala!

Dois bilhões a rastejar.
Poucas dezenas a beber
a glória de ali estar,
a alegria de poder ser

os que têm voz e tem valor;
os que decidem pelo mundo;
Sem ninguém pra se opor
além de um pobre vagabundo...

Ao vagabundo prometeste
que este falaria
e que não importava o interesse,
o mundo todo ouviria!

Deusa, noiva prometida,
ninguém questiona a tua falta.
O mundo passa pela vida
e pela vida é que se acaba...

Estamos todos calados
Afundados em letargia;
preciso-te em meus braços...
Onde estás democracia?

Por um país livre,

Estado laico JÁ!
Contato: estadolaicoja@gmail.com

domingo, 17 de outubro de 2010

Mas o Estado já não é laico?

É uma pergunta que respondemos nos debates. Alguns conservadores até usam-na para deslegitimar nossas ideias e até mesmo colocar a nossa fala como contrária ao Estado laico, acusando-nos de estarmos defendendo um Estado ateu (que é diferente de laico). Bem, respondendo à pergunta sobre a laicidade do Estado, é fato que sim, no Brasil ela existe - na Constituição. E aqui entra o fundamental da nossa reivindicação: conquistamos esta liberdade e precisamos exercê-la. São igualmente livres todos os religiosos e não religiosos para terem a sua consciência e prática no âmbito da religião, sem discriminação no seu tratamento, desde que estas em nada interfiram nas decisões da política do Estado. Usando o exemplo do aborto, que prevalece nas discussões, cada um pode ser contra ou a favor da sua criminalização ou descriminalização. O que ninguém pode é justificar essa posição com um argumento religioso. Isto tudo é bem simples, mas tentam complicar o raciocínio usando de um relativismo torto. Basicamente, o que acabam por dizer é: "Ora, se as religiões são livres, elas podem julgar e punir aqueles que violam o que os religiosos, a maioria, acharem certo baseados em sua religião". A questão principal é que este "certo" nunca e em nada pode ser contestado e, assim sendo, pode justificar qualquer ato, violento ou não, em direção a qualquer pessoa, religiosa ou não religiosa. Esta justificativa para os atos é visível também no caso da ditadura, um exercício absoluto do poder, acima de qualquer contestação, que foi inclusive citado como solução por algumas pessoas no debate da UFPR (http://migre.me/1Bwcr). Antes de pensarmos nas consequências de atos e decisões com tal motivação, analisemos ainda que o "certo" para uma religião pode não o ser para outra. Estaríamos, enfim, inseridos num campo de batalha, a todo (e muito) custo na busca deste "certo" inalcançável. É para evitar isso que o Estado é laico na Constituição e cabe a todos nós garantirmos que este também o seja no exercício da política. Sabemos que proibir o roubo não bastou para que este deixasse de ser praticado. É preciso que se cumpra o previsto na lei. Assim ocorre também com o recente e equivocado debate sobre o aborto, além de diversas outras práticas, como intolerância religiosa, homofobia e demais preconceitos que violam a Constituição no que concerne à laicidade. O que reivindicamos é sim um Estado laico e este foi sim ferido no processo eleitoral corrente. Sabendo ser isto sintoma de um mal maior, o conservadorismo que rege o Brasil às escuras (ou não), reforçamos nossas ideias sobre a questão das eleições e chamamos o debate sobre Estado laico para além destas. Ressaltamos então a boa sequência que tivemos nos fóruns já citados e continua aberto o convite para outras mobilizações também. Estamos disponíveis para contato aqui no blog, no orkut (http://migre.me/1BwtE), por email e twitter (http://www.twitter.com/estadolaicoja).

Por um país livre,

Estado laico JÁ!
Contato: estadolaicoja@gmail.com

sábado, 16 de outubro de 2010

E não se fala mais nisso

Abrimos tópicos para discussão em diversos fóruns do Orkut, especialmente naqueles de universidades. Em alguns fomos bem recebidos, noutros negligenciados e até mesmo expulsos chegamos a ser, sob argumentos como "outro tópico de política?" ou ainda "o que esse tema tem a ver com a comunidade?". Parece que as pessoas andam mesmo cansadas da política. E têm motivos, não? São justamente estes motivos que nos propomos a combater junto a todos, mas a exaustão a que lhes submetem os últimos debates políticos impede de atentar para este fato, assim como para outro tão importante quanto: os temas que trazemos são do interesse não só desta ou daquela comunidade, mas de todas as comunidades e indivíduos inseridos ou não inseridos nelas. Como em Piercing, de Zeca Baleiro, a resposta que temos é "e não se fala mais nisso!" ao que respondemos, como na música: "mas nisso não se fala!"

Basicamente é essa a realidade das discussões, mas apesar disso estão tendo força nas comunidades da UFBA (http://tinyurl.com/2bvuxvx) e da USP (http://tinyurl.com/29m4r63). Aqui um fato interessante a analisar: temos mais apoio na universidade baiana. É essa mesma universidade que já adota há algum tempo para o ingresso nos seus cursos o polêmico sistema de cotas para negros, pardos, indígenas e egressos de escola pública. Este foi rejeitado na USP. Antes de questionar a eficiência e justiça deste programa, propomos pensar nos efeitos que traz ao perfil dos estudantes das universidades. Enquanto a USP, sem uma política afirmartiva na sua seleção, lida com os estudantes melhor preparados para o seu vestibular, leia-se aqueles das classes mais altas, a UFBA, ainda que tendo característica semelhante, passa a receber com as cotas um público até onde esse preparo para o vestibular não chegou.

Na comunidade da USP encontramos os seguintes argumentos:

"se fosse levar a ferro e a fogo este história de estado laico:
1- a estátua do Cristo Redentor deveria ser removida no Rio de Janeiro"

"Eu e o Peréio defendemos a demolição da horrenda estátua do cristo redentor!!!!"


Ao que respondemos:

Isso é um exemplo do que agride o Estado laico e é o que está sendo feito no caso das eleições, embora ao contrário. Exploram as diferenças como motivo para conflitos e privam a todos nós da possibilidade de nos unirmos por um bem comum através da democracia. É essa união que venho aqui propor, para nos libertarmos da dominação.

A menos, é claro, que se tenha interesse nela...

Não seria o caso das cotas outro exemplo de diferenças exploradas como motivo para conflitos (e que privam a todos nós da possibilidade de nos unirmos por um bem comum através da democracia)? Estamos longe de entrar agora na discussão sobre as cotas e declará-las aqui como causa ou solução de qualquer problema, até porque estas não podem ser analisadas isoladamente. Na UFBA também tivemos oposição
, que pode ter partido de cotistas e não cotistas, como na USP também tivemos apoio e, de qualquer forma, na internet é difícil definir esses territórios, dizendo com certeza a origem de cada internauta que participa das discussões. Mas pondo em questão a diferença que tivemos, de uma forma geral, na recepção das ideias na USP e na UFBA, podemos sim relacioná-las com as diferenças que vemos entre os seus públicos estudantis e pensarmos ainda nas diferenças (políticas, sociais, econômicas, culturais, etc) que estas duas universidades refletem entre as suas regiões, Nordeste e Sudeste.

Continuam as discussões no
Orkut. Convidamos todos a participarem e a organizarmos, ainda, manifestações presenciais. Lembrando que o tema do Estado laico vai (muito) além do aborto e das eleições.

Por um país livre,

Estado laico JÁ!
Contato: estadolaicoja@gmail.com

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Debate Democracia e Estado Laico nas Eleições 2010

Redes e locais públicos de todo o Brasil
Datas: antes das eleições e por quanto durar
Convidados: brasileiros


Já começou o debate online, a exemplo dos endereços listados abaixo:




Qualquer iniciativa, virtual ou presencialmente, é bem-vinda para ser promovida no espaço do blog, que serve para compartilhar e fortalecer o movimento.

Por um país livre,

Estado laico JÁ!
Contato: estadolaicoja@gmail.com

JÁ!

As eleições revelaram a realidade medieval de que se faz incubadora nossa sociedade. A partir de um ataque do candidato José Serra à candidata Dilma, aflorou uma discussão sobre o aborto em termos totalmente equivocados. Primeiro porque qualquer decisão a esse respeito é atributo do legislativo. O executivo, pelas mãos do presidente, pode no máximo mandar a decisão de volta para o legislativo e, se este decidir por aprová-la, assim será feito. Em segundo lugar, e mais importante, o equívoco da pauta aborto nos debates políticos está no fato de sermos um Estado laico. Ou seja: somos livres para a prática de nosso credo (ou ausência dele), mas ninguém pode usá-lo como justificativa no âmbito da política. Constitucionalmente o Estado é uma entidade separada da Igreja. Este alvoroço que vemos às vésperas do segundo turno é uma violação à lei, um crime que atinge também a ética e o direito de nós cidadãos de sermos representados pelos nossos interesses quanto à educação, saúde e demais áreas das quais se perdeu o foco nas campanhas. Ignora-se, por exemplo, o fato de 1/5 das mulheres brasileiras já terem feito aborto. Isso é um dado e um problema de saúde pública. O candidato José Serra e seus parceiros, ao iniciarem tudo isso com ataques gratuitos, dão provas de que querem a atenção dos eleitores longe destas questões. Por que?

Enquanto cidadãos brasileiros, vítimas e testemunhas da chuva de preconceitos que agora nos recai, devemos nos organizar a favor de um Estado laico, onde seja prioritária a liberdade civil, política e social.

Para isso o nosso blog http://estadolaicoja.blogspot.com/ está lançado e abre convite para nos organizarmos virtual e pessoalmente por todo o país. Serão postados notícias e textos sobre o movimento. Quem se candidata por um país livre?

Estado laico JÁ!
Contato: estadolaicoja@gmail.com