sábado, 4 de dezembro de 2010

Rammstein: sexo e violência em pacote dadaísta



Rammstein: sexo e violência em pacote dadaísta

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/12/01/rammstein-sexo-violencia-em-pacote-dadaista-345634.asp

Há muito tempo que eu queria escrever sobre o Rammstein, mas esperei pela ocasião dos shows deles aí no Brasil. Um deles foi ontem, em São Paulo. Vai ter mais um hoje.

A espécie da música não me interessa nem um pouco. Mas não tem como negar o significado da banda para a história da música alemã. Formada em Berlim em 1994, é uma das integrantes do chamado “novo hard metal alemão”. Longe de saber o que isso quer dizer exatamente, me abstenho de comentar profundamente, com o consolo de saber que um rótulo não é o bastante para definir o Rammstein, sendo que os próprios se definem como “tanzmetal” (algo como dancemetal). Metal alternativo, nós entendemos!

Como rotular isso agora, críticos?

Tem também as letras irreverentes, parte fundamental da comunicação com o público. O vocalista Till Lindemann se entende muito bem com a platéia e fãs quando canta sobre temas favoritos como sadomasoquismo, homossexualismo, necrofilia, abuso sexual, canibalismo, etc. Ah, incesto também entra nessa lista. Tudo sem esquecer da inspiração nos textos de Goethe.

Por último, mas não menos importante: as performances. O grupo foi proibido de tocar em Moscou e Minsk esse ano por causa do conteúdo provocante dos shows. São verdadeiros espetáculos dadaístas, com direito a fogos de artifício e lightning designers para elaborar os conceitos pirotécnicos. Porque nada aparece à toa em um show do Rammstein.

O canal ZDF exibiu em outubro um especial sobre a música alemã que nasceu depois da queda do muro de Berlim. Peguei por acaso na TV. A análise pegava como gancho as peculiaridades das bandas do “Oeste” e do “Leste”.

No programa, várias bandas queridinhas da “cena”, como Wir Sind Helden, Die Prinzen, Die Atzen, etc, bateram o martelo e escolheram o Rammstein como banda símbolo do rock pop alemão depois da reunificação. Abusados, debochados, explosivos, o extremo do extremo. Até então nenhuma banda alemã reunia essas características. Mesmo polêmicos, conquistaram o coração até dos mais afeitos a um Schumann.

Esqueci de dizer que a banda foi formada na ex-Berlim oriental. O que torna todo o contexto mais interessante ainda. Os artistas do Leste cresceram desenvolvendo sua arte e música sob os tapetes da ditadura. Todos os integrantes do Rammstein nasceram e cresceram na RDA e tocavam já na época do muro em bandinhas underground da cidade.

Em 1990 de repente estava tudo liberado. E o Rammstein apareceu nesse cenário como um expurgo estético necessário de uma cultura, costumes e tabus que ficaram empoeirados durante 40 anos. Sim, porque as ditaduras não eliminam o seu eu-lírico pervertido. Junto a isso tem-se o modelo da banda, que foi acima de tudo, um negócio de sucesso. Já venderam mais de 16 milhões de discos mundo afora.

A violência como símbolo também faz parte do pacote do Rammstein, e no começo a banda foi facilmente cunhada de neonazista por escolher levar o estilo “fascista” como opção estética. O cabelinho preto e curto, partido do lado, culto a músculos, atitude brutal e abordagem de temas como violência e guerra funcionaram como um excelente provocador. A ambivalência proposital deu super certo na fórmula da banda e colaborou para levar sua popularidade às alturas.

Uma das peripécias recentes foi a produção de um clipe para uma música do último álbum com cenas de sexo explícito, onde os próprios integrantes da banda eram os protagonistas. É muito difícil de achar na internet a versão “director’s cut” do vídeo. A versão que rola por aí é a que pode passar nas MTVs da vida. O nome da canção é “Pussy” e posso garantir que o negócio é hard e que o tema refere-se a vida sexual dos homens alemães.

É o Rammstein mais uma vez fazendo crítica social por meio de suas letras.

Tamine Maklouf - www.diekarambolage.wordpress.com

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